Blog
Indicadores laboratoriais essenciais na nutrição animal
Tecnal,Indicadoreslaboratoriais,Laboratoriaisessenciais,Nutriçãoanimal
A nutrição animal depende de análises laboratoriais precisas para garantir o equilíbrio, a eficiência e a segurança da alimentação animal.
Cada ingrediente utilizado na formulação de rações e suplementos precisa ser rigorosamente avaliado quanto à sua composição química e valor nutricional, assegurando que os animais recebam a quantidade adequada de energia, proteína, minerais e vitaminas para o máximo desempenho produtivo e manutenção da saúde.
O controle de qualidade de rações, ingredientes e suplementos é, portanto, uma etapa indispensável em sistemas de produção. Variações na matéria-prima, comuns em subprodutos agroindustriais ou diferentes insumos, podem comprometer o valor nutricional e afetar o desempenho zootécnico, aumentando custos e reduzindo a eficiência alimentar.
Nesse contexto, os indicadores laboratoriais em nutrição animal assumem papel estratégico. Por meio da análise bromatológica e de outras determinações complementares, é possível monitorar diversos parâmetros, garantindo que as formulações atendam exatamente às exigências nutricionais de cada espécie e categoria animal.
Mais do que números, os resultados laboratoriais representam a base sobre a qual se constrói o manejo nutricional de qualidade.
Principais indicadores bromatológicos e sua importância
A análise bromatológica é o ponto de partida para a avaliação da qualidade nutricional de alimentos destinados à nutrição animal. Por meio dela, é possível determinar a composição centesimal das amostras e compreender como cada nutriente contribui para o desempenho e a saúde dos animais. Os principais indicadores bromatológicos analisados incluem umidade, matéria seca, proteína bruta, extrato etéreo, fibra bruta, matéria mineral, carboidratos e outros.
Umidade e matéria seca: Base para a padronização analítica
A determinação de umidade e matéria seca (MS) é uma das análises fundamentais da bromatologia, pois serve de referência para o cálculo de demais componentes da amostra. Essa análise é aplicada a produtos e subprodutos de origem animal, vegetal e mineral, além de rações e concentrados, garantindo comparabilidade entre resultados.
O método consiste em submeter a amostra à secagem em estufa a 105 °C, até que toda a água e substâncias voláteis sejam removidas. Equipamentos como a Estufa com Circulação e Renovação de Ar (TE-394) asseguram uniformidade na secagem e controle preciso de temperatura, com modelos com diversos volumes.
Após o aquecimento, as amostras devem ser resfriadas em dessecador de vidro ou dessecador a Vácuo (TE-3950/1), utilizado juntamente com uma Bomba de Vácuo, evitando absorção de umidade do ambiente antes da pesagem final.
Em amostras sensíveis ao calor, que podem sofrer decomposição ou formação de crostas na superfície, recomenda-se o uso da Estufa a Vácuo (TE-395), operando em temperaturas reduzidas (próximas a 70 °C).
Para análises rápidas em campo ou em laboratório, é possível usar o Medidor Portátil de Umidade de Grãos (DRA-TWISTGRAIN PRO) ou o Analisador de Umidade (SHI-MOC-63U), desde que devidamente validados.
A determinação da matéria seca é essencial não apenas para o controle de qualidade de ingredientes, mas também para o ajuste de dietas com base na matéria seca consumida, um parâmetro-chave na avaliação de desempenho zootécnico.
Matéria mineral: Avaliação dos teores inorgânicos
A análise de matéria mineral, também conhecida como determinação de cinzas, quantifica o conteúdo de compostos inorgânicos remanescentes após a queima da matéria orgânica.
O procedimento é realizado por calcinação da amostra em Mufla, a temperaturas entre 550 °C e 570 °C, até que o resíduo apresente coloração branca ou ligeiramente acinzentada. A amostra é previamente pesada em Balança Analítica e, após o processo, resfriada em Dessecador a Vácuo (TE-3950/1) até atingir a temperatura ambiente, sendo novamente pesada para cálculo da porcentagem de cinzas.
Quando necessário, pode-se realizar uma etapa de pré-secagem em Chapa Aquecedora para reduzir o teor de umidade antes da incineração.
Essa metodologia pode ser combinada à determinação direta de umidade, otimizando o tempo de análise. Além disso, a mesma linha de equipamentos pode ser utilizada para análises de resíduo insolúvel em ácido clorídrico (HCl), importante em subprodutos de origem animal, vegetal e mineral.
Atividade de água (AW): Indicador de estabilidade e vida útil
A atividade de água (aw) é um dos parâmetros mais relevantes na avaliação da qualidade e estabilidade de ingredientes e rações animais. Diferente do teor de umidade total, a aw representa apenas a fração de água livre disponível no alimento, isto é, a porção que pode ser utilizada por microrganismos para o seu desenvolvimento.
Valores elevados de atividade de água aumentam a susceptibilidade à deterioração microbiológica, acelerando processos de fermentação, oxidação e perda de nutrientes. Já níveis controlados de aw garantem maior estabilidade físico-química, prolongando a vida útil e preservando as características nutricionais da ração.
No controle de qualidade, a determinação desse parâmetro é essencial para evitar contaminações e desperdícios. Equipamentos como os Analisadores de Atividade de Água são amplamente utilizados em laboratórios de nutrição animal por sua precisão e facilidade de operação, permitindo o monitoramento da estabilidade de lotes e ingredientes.
Proteína bruta: Determinação pelo método KJELDAHL
A determinação de proteína bruta é um dos pilares das análises laboratoriais em nutrição animal, pois permite avaliar a qualidade nutricional de ingredientes e rações com base no teor total de nitrogênio presente. O método clássico e mais amplamente adotado é o método de Kjeldahl, desenvolvido por Johan Gustav Kjeldahl no século XIX, e ainda hoje reconhecido por sua confiabilidade e precisão.
O processo envolve três etapas principais:
- Digestão (decomposição da matéria orgânica): a amostra é tratada com ácido sulfúrico concentrado e catalisadores, convertendo o nitrogênio orgânico em íons amônio (NH₄⁺), sob a forma de sulfato de amônio.
- Destilação com arraste a vapor: a solução é neutralizada com hidróxido de sódio, liberando amônia (NH₃), que é arrastada por vapor e capturada em ácido bórico.
- Titulação: o nitrogênio é quantificado por titulação com ácido valorado, e o resultado é convertido em proteína bruta por meio do fator de conversão 6,25 (ou outro adequado à matriz analisada).
Para execução do método, são utilizados Blocos Digestores, Micro (TE-040/25) ou TE-041/25 ou Macro (TE-008/50-04), TE-0081/50, TE-005/50-04 ou TE-0051/50, que podem ser usados em conjunto com Galerias Exaustoras. Também pode ser utilizado um Scrubber (TE-152 ou TE-154/1), que neutraliza os vapores oriundos da digestão. A escolha deve ser feita de acordo com a amostra a ser digerida e a demanda de análises. Os blocos TE-041/25, TE-0081/50 e TE-0051/50 acrescentam a função de rampas e patamares cujo sistema permite que se faça uma programação de subida automática da temperatura, liberando o analista de realizar tal ação manualmente.
Para destilação, usa-se Destiladores de Nitrogênio, como o TE-0364, o modelo com três provas TE-0365/1 ou o modelo automático TE-0366.
A determinação de proteína é indispensável para formulação de dietas balanceadas, controle de qualidade de insumos e avaliação do desempenho zootécnico, sendo um dos indicadores laboratoriais mais estratégicos da análise bromatológica.
Extrato etéreo (Gordura): Avaliação do teor lipídico
O extrato etéreo (EE) representa a fração de compostos lipídicos solúveis em solventes orgânicos apolares, como éter de petróleo e hexano, e insolúveis em água. Essa análise é essencial para determinar o teor de gordura total presente em amostras como matéria-prima, ingredientes e rações, parâmetro diretamente relacionado ao valor energético do alimento, palatabilidade e estabilidade oxidativa das formulações.
Os lipídios englobam gorduras, óleos, ceras e outros compostos apolares que podem ser extraídos por meio de solventes orgânicos. A extração pode ser realizada por diferentes métodos, sendo comuns os métodos de Soxhlet e o método de Goldfish, ambos baseados na dissolução dos compostos lipídicos pela ação de solventes sob aquecimento.
- Método Soxhlet (extração intermitente): utiliza refluxo e sifonagem do solvente aquecido, o que permite a extração cíclica dos lipídios presentes no material sólido. Pode ser executado com a Bateria de Extração Tipo Sebelin/Soxhlet (TE-1881/6).
- Método Goldfish (extração contínua): promove a imersão direta da amostra no solvente em ebulição, acelerando o processo de extração. É realizado em equipamentos como o Sistema para Determinação de Gordura, (TE-044-5/50), TE-044-8/50, TE-045/5 ou TE-045/8.
Após a extração, o solvente é evaporado e o resíduo seco corresponde ao teor de gordura da amostra. Esse parâmetro é fundamental no controle de qualidade de rações e suplementos, permitindo identificar variações na formulação, estabilidade e aporte energético dos alimentos.
Fibras (FB, FDN E FDA): Estrutura, digestibilidade e valor nuticional
As fibras também são importantes parâmetros na análise bromatológica, especialmente em alimentos de origem vegetal. Elas influenciam diretamente a digestibilidade, o consumo voluntário e a eficiência alimentar dos animais, sendo parâmetros indispensáveis para a formulação de dietas balanceadas.
Existem diferentes métodos para quantificação das frações fibrosas, com destaque para a Fibra Bruta (FB), a Fibra em Detergente Neutro (FDN) e a Fibra em Detergente Ácido (FDA). Essas análises são realizadas em equipamentos como o Determinador de Fibra TE-149, aplicável a matérias primas vegetais de alimentos destinados a alimentação animal como rações e concentrados.
- Fibra Bruta (FB): representa a fração composta por celulose, hemicelulose e lignina, constituindo a porção menos digestível do alimento. Apesar de sua importância, o método tende a subestimar o teor real de fibras, sendo gradualmente substituído pelas análises de FDN e FDA em dietas de ruminantes. Ainda assim, pode ser útil para formulações destinadas a monogástricos, como suínos.
- Fibra em Detergente Neutro (FDN): proposta por Van Soest, avalia a fração total da parede celular, que inclui hemicelulose, celulose e lignina. A determinação é feita pela solubilização de compostos não estruturais (proteínas, lipídios, amido e açúcares) em meio neutro com detergente aniônico, permanecendo como resíduo a fração fibrosa total. A FDN está diretamente relacionada à capacidade de ingestão, quanto maior seu valor, menor tende a ser o consumo voluntário.
- Fibra em Detergente Ácido (FDA): também desenvolvida por Van Soest, mede a fração composta apenas por celulose e lignina, após a remoção da hemicelulose em meio fortemente ácido com detergente catiônico em ebulição. Essa medida está associada à digestibilidade do alimento, sendo utilizada para estimar o valor energético e a qualidade da fibra em forragens e concentrados.
A combinação dessas análises fornece uma visão mais completa sobre o valor nutricional e o potencial fermentativo das dietas, auxiliando nutricionistas na formulação de rações mais eficientes e ajustadas ao metabolismo de cada espécie.
Determinação de glicídios redutores (Açúcares redutores)
A determinação de açúcares redutores é um dos métodos mais utilizados para quantificar os carboidratos presentes em ingredientes e rações, permitindo estimar o valor energético e a disponibilidade de nutrientes.
Pode ser usado o método de Fehling, baseado na capacidade dos açúcares redutores de reduzir íons cúpricos (Cu²⁺) para íons cuprosos (Cu⁺) em meio alcalino sob aquecimento.
Para açúcares não redutores, é necessária uma etapa prévia de hidrólise, realizada com ácido ou enzimas, que quebra os carboidratos complexos em unidades mais simples. Essa etapa pode ser conduzida em Banho-maria (TE-054MAG ou TE-056-MAG), garantindo temperatura e controle ideais.
A determinação pode ser feita por equipamentos como o Determinador de Açúcares Redutores TE-088, que utiliza eletrodo de platina para detecção precisa do ponto final da titulação, aumentando a reprodutibilidade da análise.
Digestibilidade in vitro
A digestibilidade in vitro é uma técnica laboratorial desenvolvida para estimar a proporção de alimento digerido e absorvido pelo animal, simulando as condições fisiológicas do rúmen ou trato gastrointestinal. Esse método se consolidou como uma alternativa rápida e mais econômica aos ensaios in vivo, mantendo boa correlação com os resultados obtidos em experimentos com animais.
O princípio da técnica consiste em incubar amostras de alimento com líquido ruminal tamponado em condições controladas de temperatura, pH, anaerobiose e presença microbiana, reproduzindo o ambiente ruminal. Essa incubação pode ser conduzida na Incubadora In Vitro TE-150, que permite o controle preciso da temperatura e da agitação, garantindo homogeneidade na fermentação.
Durante o processo, ocorre a degradação microbiana dos nutrientes, e o resíduo obtido após a digestão é utilizado para calcular o coeficiente de digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) e da matéria orgânica (DIVMO).
A digestibilidade in vitro é amplamente aplicada na avaliação de forragens, subprodutos e dietas completas para ruminantes, auxiliando na estimativa do valor nutricional, eficiência alimentar e potencial energético dos alimentos.
Digestibilidade em pepsina
A digestibilidade em pepsina é um indicador específico para produtos e subprodutos de origem animal. O método baseia-se na digestão enzimática da amostra com solução de pepsina e ácido clorídrico (HCl), simulando as condições do estômago dos animais monogástricos.
Inicialmente, a amostra é moída, desengordurada e seca. Em seguida, é colocada em frascos de digestão contendo solução de pepsina e HCl e mantida sob agitação e temperatura controlada na Estufa para Digestibilidade em Pepsina (TE-029/1).
Após o período de incubação, o material é filtrado, e o resíduo insolúvel é quantificado pelo mesmo procedimento usado na determinação de proteína bruta, permitindo estimar o percentual de proteína digerível.
Esse parâmetro é especialmente relevante para a indústria de nutrição animal, pois reflete diretamente a eficiência biológica das fontes proteicas, como farinhas de carne, ossos, penas e vísceras, e auxilia na identificação de danos térmicos ou baixa qualidade proteica resultantes do processamento.
Análises laboratoriais como aliadas da eficiência nutricional
Análises laboratoriais aplicadas à nutrição animal é uma ferramenta indispensável para o avanço da produção eficiente e sustentável. Os indicadores laboratoriais, obtidos por meio de análises precisas e regulares, permitem compreender de forma detalhada o valor nutricional dos ingredientes, a qualidade das rações e o equilíbrio das dietas formuladas.
Ao correlacionar esses resultados com o desempenho zootécnico, torna-se possível ajustar formulações, reduzir desperdícios e otimizar o uso de nutrientes, fatores essenciais tanto para a saúde e produtividade dos animais quanto para a rentabilidade do sistema produtivo.
Investir em análises laboratoriais em nutrição animal é, portanto, investir em previsibilidade, qualidade e sustentabilidade.
Referências bibliográficas
SINDIRAÇÕES. Compêndio Brasileiro de Alimentação Animal. São Paulo: Sindirações, 2023.
FELTES, M M C [et al.] Procedimentos operacionais padronizados de bromatologia de alimentos – Blumenau: Instituto Federal Catarinense, 2016. 172 p.
Instituto Adolfo Lutz (São Paulo). Métodos físico-químicos para análise de alimentos. 4ª Edição/1ª Edição Digital. Coordenadores Odair Zenebon, Neus Sadocco Pascuet e Paulo Tiglea - São Paulo: Instituto Adolfo Lutz, 2008 p. 1020.
TECNAL. E-book: Equipamentos para análises de nutrição animal. Disponível em: < http://tecnal.com.br/pt-BR.











